Na Fila para o Além

Na Fila para o Além é uma investigação-ação que foi realizada no Sesc Pinheiros durante todo o mês de julho. Essa investigação é parte e caminho para um projeto maior que estamos desenvolvendo, chamado Projeto Andorinha.

Nela, 3 funcionários enviados do Além,  adentram o universo de espera das filas para mergulhar em temas como a passagem da vida e a sua finitude.

Dentre os funcionários do Além, dois convidados muito especiais....
Marina Campos e Adê Teixeira.










































Uma das funcionárias relatou:

"{...} Conhecemos um senhor bonito de voz firme chamado Marco Antônio. Todo arrumado, calça branca, camisa verde, cabelo bem escovado. Na interação com o público, seguimos um roteiro de perguntas a principio brincalhonas. para amolecer. Marco antônio acompanhava a brincadeira com seriedade. Mais adiante chegamos nas perguntas que realmente nos interessam: na “passagem”, o que vai ser difícil deixar para trás? o que será um alívio deixar pra trás? se pudesse levar uma única memória para a eternidade qual seria? você cumpriu a sua missão?
Ouvimos o Marco Antônio e ele também se ouviu. Terminamos todos muito emocionados.
Esse senhor, com jeito de Rei, falou muito de sua linda esposa, da sorte grande de escolher e ser escolhido pela pessoa certa, do dia do seu casamento, uma alegria inesquecível, da vontade de voltar no tempo para curtir mais os filhos e também do amor, saudades e grande admiração pelo sogro e pelo cunhado... que já passaram.
...que sortuda a esposa do marco antônio: um pai, um irmão e um marido muito bem acabados. Fiquei depois pensando nessas figuras masculinas e lembrei de uma história que veio da lá da índia:

Conta que um rei anunciou para todo povo que sua filha estava pronta para casar com o homem de sua escolha. No dia estipulado, apareceu muita gente. O pai não sabia a quem dar a mão de sua filha. ele olhou para todos os jovens e disse: - minha filha, vai passear no jardim com esses rapazes para que se conheçam.
e assim foi.
ela se sentou no gramado e aquele tanto de homem a sua volta.
eles não sabiam o que dizer, estavam vidrados na beleza e graça da princesa. quando ela olhava para direita, eles olhavam para direita. quando ela olhava para esquerda, eles olhavam para esquerda.
e, de tanto a olharem, ela foi ficando incomodada... se agitou, se contorceu, torceu seu lenço, ficou enrolando o cabelo nos dedos e de tanto torcer e retorcer ela atraiu para si o espirito da contorção que apareceu sobre a forma de uma serpente venenosa que se enroscou em volta de seu tornozelo e a mordeu. na mesma hora ela caiu morta!o pai inconsolavel ordenou que se fizesse o funeral.
o primeiro jovem disse: vou pegar seus ossos e afundá-los no rio sagrado para que a princesa ressuscite.
o segundo disse: vou em busca de uma fórmula encantatória par que a princesa volte a viver.
o terceiro disse: ficarei aqui e esquentando as cinzas da princesa com meu corpo.
o tempo passou.
o segundo jovem trouxe enfim a fórmula encantatória e mandou chamar o primeiro para que viesse com os ossos encontrar o terceiro que permaneceu junto às cinzas. eles pegaram as cinzas, os ossos, reconstruiram o cadaver e o segundo declamou as palavras encantadas. de repente ascendeu uma fogueira e desse fogo saiu a jovem de pé como uma deusa ainda mais bela do que antes. os três rapazes ficaram loucos de amor e começaram a brigar pela mão da moça que preferiu ela mesma escolher seu pretendente:- muito bem, o primeiro rapaz, que levou meus ossos ao rio sagrado fez o que costumam fazer os filhos quando morre o pai ou a mãe. o segundo jovem, assim como um pai, me ofereceu a vida. casarei com o terceiro, aquele que, com seu corpo, aqueceu minhas cinzas, que não me deixou um instante, que permaneceu deitado ao meu lado.
Casaram-se e a festa foi linda, dia de sol, noivos reluzentes, comida boa e farta e música pra dançar sem parar, assim como disse o marco antônio, foi o dia mais feliz da vida daquele jovem.
Essa é a história. Parece muito a cantiga portuguesa "Terezinha de Jesus". quando encontrei Marco Antônio, essas histórias tão antigas e poderosas brilharam vivas em nosso presente... e naquele momento me pareceu uma trama só, uma mesma raiz... são histórias trançadas suspensas em um tempo que está fora do nosso tempo.
Perguntei ao marco antonio como ele gostaria de morrer e ele me disse que queria simplesmente virar o vento."
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5 comentários:

dani disse...

dona rute, chorei mais uma vez lendo e ouvindo vocês... ai ai, vocês parecem uma rajada de ar cheia de oxigênio, que me ajuda a amaciar um pouco a existência. bj do dani.

Emilie Andrade disse...

Gosto muitíssimo do trabalho de vocês, que só conheço através deste sítio. Vi a Cristiana no Boca do Céu deste ano, e gostei mais ainda.
Vendo estas placas (Céu e Inferno)... fiquei a pensar: e o purgatório? Ou um meio termo? Não cabe nessa histórias?
Isso me lembrou também aquele filme com o Robin Williams, Amor além da vida, no qual cada um inventa o seu paraíso ou inferno, enfim, cada inventa o seu "outro" lugar que não aqui. No filme o dele é uma quadro, acho que do Monet! Não é lindo isso?
Acho que o meu paraíso seria como o do Borges: uma grande biblioteca!

Espero encontrá-las por aí, com uma placa na mão, qualquer dia desses...

Beijos
Emilie

As Rutes disse...

Dani: obrigada. que coisa mais linda. obrigada.

Emilie: Que vontade de te conhecer! Coloca a gente no seu mailing?? asrutes@gmail.com.
Entonces, as placas do céu e do inferno disparam uma relação com os passantes, funcionam mais como um portal para as pessoas entrarem e contarem suas histórias. MAS com certeza, o purgatório seria muito interessante, talvez mais que céu e inferno...
Venha sempre nos visitar!
Um abraço, Cris.

Emilie Andrade disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Emilie Andrade disse...

Ai que alegria! A minha vontade de conhecer vcs já é antiga...
Estou começando a trilhar um caminho na narração, por isso, a chance de nos encontrarmos por aí aumenta (pelo menos, espero que seja assim).
Passe lá em casa qualquer hora (www.emilieandrade.blogspot.com), a gente toma um chá virtual! rs

Eu sempre volto! Até